No meu post anterior falei de um livro de divulgação da filosofia a um público mais amplo. Esse público é aquele que compra livros, gosta de aprender mas que pura e simplesmente não tem formação específica em filosofia. Isso acontece comigo em relação à física ou biologia. Quando pretendo aprender um pouco mais de biologia dificilmente comprarei um livro que resulta de um estudo sofisticado de um biólogo. E por que razão não o compro? Pela razão que não o entendo, não domino o léxico específico da biologia. Faltam-me as bases para compreender o mais específico. Com a filosofia esta realidade é a mesma coisa. Alguém que não domina a filosofia pela base terá poucas possibilidades de compreender um problema mais específico desenvolvido em 400 páginas. Mas isso não significa que a filosofia não interessa às pessoas. Interessa tanto como a matemática ou a física. A filosofia, tal como os outros saberes possui níveis de aplicação nas nossas vidas mais intuitivos e imediatos e outros mais sofisticados. Qualquer pessoa saudável está minimamente habilitada a questionar-se sobre a moralidade do aborto, por exemplo. Mas é mais raro encontrar pessoas com a formação mínima para discutir problemas de metafísica avançada. Os livros de divulgação oferecem a essas pessoas:
1) Ferramentas para discutirem os problemas;
2) A possibilidade de despertarem interesse para estudos futuros mais avançados, principalmente aos jovens.
Este argumento sobre os livros de divulgação tem como pressuposto que a filosofia é ensinável a níveis mais básicos. Claro que uma posição elitista exige a crença de que o comum das pessoas não está habilitada para aprender filosofia. Acontece que não temos qualquer prova deste argumento, mas temos muitas provas do contrário. Cada vez é menos raro ver cientistas que afirmam ter despertado para a ciência com os livros de Carl Sagan ou de outros bons divulgadores de ciência. Creio que está na altura de experimentarmos algo semelhante para a filosofia. Pelo menos vale a pena tentar.
Nota: O Desidério Murcho explora esta questão na Crítica. Ver aqui.
8 de agosto de 2008 ⋅ Blog
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