
Poucos professores e estudantes sabem que a lógica aristotélica que se encontra em muitos manuais escolares pouco corresponde à lógica que Aristóteles realmente escreveu. É, antes, o resultado de diversos tratamentos escolares feitos ao longo de séculos, quase todos desastrosos. Por isso, esta lógica, que é muitíssimo simples, é muitas vezes leccionada com complicações desnecessárias, sem que o fundamental fique claramente compreendido. O simples facto banal de a lógica de Aristóteles original não poder trabalhar com classes vazias é muitas vezes ignorado. Algumas dessas deficiências básicas foram apresentadas brevemente no meu livro O Lugar da Lógica na Filosofia.
Hoje em dia, é possível — e desejável — simplificar a lógica aristotélica e mudá-la de modo a permitir o uso de classes vazias. Foi esta a opção que vi na bibliografia mais recente que consultei, e que adoptei no Arte de Pensar, assim como nas minhas aulas na UFOP.
A propósito: muitas pessoas ficam surpreendidas com isto, mas dedico apenas uma aula de quatro horas à apresentação da lógica aristotélica aos meus alunos, depois de dominarem os elementos centrais da lógica de predicados clássica. E eles não têm qualquer dificuldade.
2 comentários :
Caro Desidério!
É bem verdade que muitas pessoas ficam espantadas em saber que quando se está ensinando lógica não é fundamental nem começar nem terminar pela silogística aristotélica - ou o que os professores de filosofia pensam que ela é.
Textos como os que tu acabas de disponibilizar, assim como o teu livro, precisam disso mesmo: divulgação para que uma cultura mais coerente de ensino de lógica seja aos poucos construída.
O blog foi uma idéia ótima, parabéns.
Olá, Gisele! Muito obrigado pelas tuas palavras. Espero ter tempo para traduzir outros dois textos informativos sobre a lógica aristotélica. Poucas pessoas sabem que Aristóteles de facto desenvolveu um sistema axiomático e que provou teoremas e até metateoremas. As pessoas não sabem disto porque pensam que a lógica aristotélica são aquelas regras tolas, puramente ad hoc, e por vezes redundantes. E o irónico é que quando dás aos estudantes regras não redudantes, e por isso um número menor de regras (bastam 4), alguns professores estranham, sentem "falta" das outras e protestam, por mais que se explique que as outras não fazem falta.
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