31 de março de 2010 ⋅ Blog
Direcção da adequação, livros e leitores
Este pedaço de banalidade filosófica tem uma relação interessante com uma banalidade mais chã: qual é a “direcção da adequação” quando se escreve um livro, ou um blog, ou um artigo? Neste caso não se trata exactamente de direcção da adequação, tecnicamente falando, mas de um conceito análogo: podemos chamar-lhe “direcção da atenção”. Parece que algumas pessoas entendem trabalhos como este blog, um livro ou um artigo primariamente como algo que visa chamar a atenção para o autor ou autores, prestigiando-o, e não como trabalhos que visam primariamente servir os leitores. É verdade que um autor muito publicado e muito lido ganha uma certa notoriedade, e poderá ter de ter cuidado para não ficar um tolo vaidoso, mas se a sua motivação original foi ficar famoso, algo de errado há na sua cabeça. Publicar livros e artigos é dar coisas a conhecer aos nossos semelhantes, chamando-lhes a atenção para algo fora deles e fora do autor. Do mesmo modo que eu muito ganho cognitivamente com os livros que leio, sem os quais eu seria uma besta provinciana sem saber sequer que há biliões de galáxias ou o que foi o Império Romano, ou o que é a direcção da adequação em ética, devolvo aos leitores algo do que tenho aprendido. A direcção da atenção não é do que escrevo para mim, mas do que escrevo para as realidades acerca das quais escrevo.
Em sociedades iletradas ou quase, a vida intelectual é vista como um mero adereço social de promoção pessoal. A direcção da atenção vai toda ou quase toda para o autor, e não para as realidades de que ele fala. Nessas sociedades, ler um autor é promovê-lo, prestar-lhe um serviço — e ameaçar não o ler é uma afronta, um perigo a evitar. Mas quando a direcção da atenção não é essa, a ameaça de não ler um autor não surte qualquer efeito: o autor tenta prestar um serviço aos leitores e no dia em que não tiver leitores passa a ser apenas leitor e a usufruir do serviço dos muitos autores que lê, sem ter de pagar em esforço autoral.
30 de março de 2010 ⋅ Blog
Confusão sobre valores
Penso que esta conversa é uma confusão. Uma grande confusão. A confusão começa com a mitologização objectificante dos valores. Os valores são coisas que têm a ver com o invisível, com deuses, com algo desse género. Assim, os valores existem e são objectivos porque são o que um deus ordena. Sem esses deuses, não haveria então valores. Esta ideia é factualista, curiosamente, pois é a ideia de que os valores existem e são objectivos porque de facto são ordenados por um deus.
Mas a confusão é que nesta concepção se está a olhar para os “factos” errados. Mesmo que existam deuses e eles ordenem coisas, não pode ser por eles as ordenarem que são valores. Não pode ser porque um deus ordena que torturar crianças inocentes é um mal que isso é um mal. Não pode ser porque um deus ordena que ajudar as pessoas é um bem que isso é um bem. É tão implausível pensar que o bem e o mal é o que alguém ordena, mesmo que esse alguém seja um deus, como pensar que as leis da aritmética resultam da legislação de alguém, mesmo que esse alguém seja um deus.
Esta concepção factualista de valores é exactamente análoga a atribuir o vento a poderes mágicos. É pura mitologia. E como mitologia que é, trata-se de pensamento factualista, mas que olha para os factos errados, inventando-os onde não existem.
Quando falamos de valores, os factos relevantes são as preferências de agentes que podem ter preferências. Uma pessoa que está a ser torturada preferia não o ser, e é isso que conta. Uma pessoa que precisa de ajuda, preferia ser ajudada, e é isso que conta. Nós somos agentes valorativos. Não podemos evitar isso, tal como não podemos evitar beber água, defendeu Hare com razão. Os valores são factos sobre as nossas preferências. Preferências essas que podem ser mais ou menos defensáveis e sábias. Depois, temos um problema de coordenação de preferências: um terrorista tem a preferência de matar mil pessoas com uma bomba, e essas mil pessoas têm a preferência de não serem mortas por ele dessa maneira. Temos de pensar que preferências são defensáveis e porquê. Temos de argumentar.
Não gosto dos chamados “novos ateístas”, que incluem Dawkins (mas ele é maravilhoso a fazer divulgação científica) e Sam Harris. Parecem-me estridentes e por vezes mentirosos. Parecem-me mais interessados em guerra política e social do que na verdade. Mas neste vídeo Sam Harris insiste numa ideia interessante: os valores são factos, mas não o género mitológico de factos que é ainda infelizmente comum associar aos valores. Vale a pena ver, ouvir e discutir.
29 de março de 2010 ⋅ Blog
Diógenes de Sínope
É absurdo trazer de volta um escravo que fugiu. Se um escravo pode sobreviver sem um senhor, não é terrível admitir que o senhor não pode viver sem o escravo?
O pensamento político de Orwell
Mandeville, os moralistas e a economia
O que está em causa é uma certa incapacidade para aceitar e compreender a diferença. A mim não me interessaria ter o género de vida prezada pela generalidade da população, baseada em automóveis, futebol, novelas, Coca-Cola, frivolidades e mesquinhices. Mas qual é o problema de as pessoas preferirem essas coisas? Presumivelmente, se tivessem o meu tipo de vida seriam tão infelizes quanto eu seria se tivesse o tipo de vida delas. Além disso, se toda a gente tivesse o meu tipo de vida, como argumentou Mandeville no séc. XVIII, seríamos todos presumivelmente muito pobres, pois é a frivolidade e a mesquinhez que é o motor da economia, fazendo as pessoas comprar desenfreadamente o que eu não quero nem oferecido.
Por isso, ao contrário de tantos intelectuais, eu aplaudo o consumismo frívolo, a Coca-Cola, as novelas e o futebol. Apenas procuro pôr o máximo de distância possível entre mim e essas coisas.
28 de março de 2010 ⋅ Blog
Whitehead, ciência e pensamento
Olhar de cima e ver de baixo
Esta terminologia esconde a obsessão simiesca dos seres humanos com as hierarquias sociais; e ao colocar num só par de palavras conceitos tão diversos como “sofisticação”, “beleza”, “valor”, “dificuldade”, ou a sua ausência, oculta numa sombra viscosa o que realmente faz algo ser melhor ou pior do que outra coisa.
O futebol é superior à filosofia? Em termos sociais, num certo sentido, sim: ganha-se muito mais dinheiro, caso se seja bem-sucedido, tem-se mais namoradas, e é-se infinitamente mais popular. Se é isso que uma pessoa valoriza, é superior. Se o que alguém valoriza é dizer palavras difíceis, por exemplo, ou estar associado a classes sociais elevadas, ainda que sem muito dinheiro, então a filosofia é superior.
Já se vê o muito que a conversa do superior oculta. Falar directamente de sofisticação intelectual ou física, por exemplo, é uma forma bem mais precisa de comparar actividades; e neste caso, o futebol perde numa e ganha na outra, assim como a filosofia. Tudo isto devolve à realidade a sua verdadeira textura. Que nunca é o simplismo simiesco do superior e do inferior sem mais. Simplismo que foi concebido para outros fins, menos elevados, do que a compreensão correcta da natureza das coisas.
27 de março de 2010 ⋅ Blog
Pátria e infantilidade
Se me perguntarem por que razão digo que essa história da pátria é uma fantasia, a minha resposta pode soar algo decepcionante para alguns. Digo que não passa de uma fantasia pelo mesmo tipo de razões que digo que as histórias de bruxas não passam de fantasias. Afinal de contas, preciso de melhores razões para acreditar numa pátria do que para não acreditar.
Haverá por aí alguém que me consiga apresentar boas razões para ser patriota?
Raciocínio e infantilidade
26 de março de 2010 ⋅ Blog
Paradoxo de Protágoras
Os juízes ficaram impressionados. Deram então a palavra ao arguido, que declarou calmante: "Se eu ganhar a causa, então não tenho de pagar, precisamente porque ganhei a causa. Mas se perder, então também não tenho de pagar, pois segundo o contrato original só tem de lhe pagar as aulas quando ganhar o meu primeiro caso em tribunal. Logo, em qualquer caso, não tenho de lhe pagar."
E agora?
Gottfried Leibniz
Dado que a felicidade consiste na paz de espírito, e dado que a paz de espírito permanente depende da confiança que temos no futuro, e dado que essa confiança se baseia no conhecimento que devemos ter sobre a natureza de Deus e da alma, segue-se que o conhecimento é necessário para a verdadeira felicidade.
25 de março de 2010 ⋅ Blog
Heraclito segundo Kahn
Primeira Tertúlia da Crítica
A livraria Trama, perto do Largo do Rato, manifestou um grande entusiasmo em acolher esta tertúlia. Eles têm um espaço muito agradável, com uma zona de estar e café que parece ter sido pensada à medida desta iniciativa. A Trama promove vários eventos por semana, com especial relevo para concertos e música. A agenda está carregada, razão pela qual apenas em Junho nos podem receber, no entanto poderemos depois agendar a Tertúlia com uma periodicidade mensal constante.
Pretendo, durante os próximos dias, seleccionar um tema para este primeiro encontro. A ideia é sugerir algumas leituras e eventualmente lançar um debate inicial aqui no blogue. Na Trama será também promovido o evento e as referências bibliográficas sugeridas.
Agora pergunto: têm ideias e sugestões relativamente aos temas a debater?
Para o primeiro encontro julgo que o tema deverá ser abrangente q.b., para despertar o interesse, mas não “fracturante”. Julgo que devemos evitar entrar agora pela filosofia da religião ou por temas concretos da ética, como sejam o aborto, eutanásia e afins; haverá certamente tempo para isso mais tarde.
Assim sendo, muito gostaria de receber os comentários, sugestões e ideias que possam ter relativamente a este evento!
24 de março de 2010 ⋅ Blog
Colin McGinn
Ninguém gosta de ser publicamente refutado e em filosofia isso acontece o tempo todo.
23 de março de 2010 ⋅ Blog
Russell sobre Gellner sobre a filosofia linguística
Li esse prefácio quando era aluno de graduação. Não teve grande influência em mim porque já nessa altura procurava a filosofia e desprezava quem despreza a filosofia e procura substituí-la por outra coisa qualquer (sociologia, história da filosofia, história das ideias, psicologia, crítica literária, crítica social ou existencial, lógica, linguística, etc.). Parecia-me ridículo que num curso de filosofia filosofia fosse aquilo de que menos se falava, aproveitando cada qual para substituir a filosofia por outra coisa qualquer. Hoje vejo que esta moda está ainda presente. De modo que traduzi aqui o prefácio de Russell à obra de Gellner, pois poderá ser iluminante para muitos leitores.
A parte para mim mais memorável, além da metáfora final do relógio, é a citação do próprio Gellner: um padre sem vocação abandona o sacerdócio, mas a malta da filosofia que querem fugir dela limitam-se a redefinir a disciplina, e continuam nos departamentos a dizer que fazem filosofia, quando na realidade abominam a filosofia propriamente dita e fogem dela a sete pés, substituindo-a por lógica ou linguagem ou crítica literária ou história ou qualquer outra coisa — menos o raciocínio intenso sobre problemas conceptuais abstractos que ninguém sabe resolver.
22 de março de 2010 ⋅ Blog
Liberdade de expressão
20 de março de 2010 ⋅ Blog
Concurso Bizâncio
- Sócrates aproxima-se de uma ponte;
- Quem disser a verdade atravessará a ponte;
- Quem disser uma falsidade não a atravessará;
- Só há um Sócrates;
- E este Sócrates diz: “Sócrates não atravessará a ponte”.
indexicais, proposições e contingências da língua
Correcção: onde digo "Mas então o que faz a frase "estou aqui" ser sempre verdadeira na circunstância em que é proferida? A resposta é: uma contingência da língua" devia ter dito algo como "Mas então por que o facto de a frase "estou aqui" ser invariavelmente verdadeira em todas as circunstâncias em que é proferida não faz essa frase ser necessariamente verdadeira?" Devia ter deixado claro neste post que não estou a tentar explicar o mecanismo dos indexicais, e sim a afirmar que é contingente a seguinte verdade: "Se uso a frase "estou aqui" em qualquer circunstância x, exprimo uma proposição verdadeira em x". A ideia era apenas explicar a confusão possível de considerar "estou aqui" como uma verdade necessária pelo facto de a sua verdade não variar com as circunstâncias em que é proferida. Ela não é necessária porque a proposição que exprime varia com as circunstâncias, e essa proposição só pode ter um veridador (o estado de coisas que a torna verdadeira), ao contrário da frase, que pode ter como veridador o veridador de qualquer proposição que exprima.
19 de março de 2010 ⋅ Blog
Qualidade superlativa
Em lógica, designa um argumento cujo valor de verdade — uma proposição só pode ter um valor de verdade Verdadeiro ou um valor de verdade Falso — é conhecido antes de se proceder a qualquer experiência.Repare-se no preciosismo: o mesmo autor ignorante que não consegue compreender que falar de valor de verdade de um argumento é como falar da sua cor (um erro categorial), e que não quer dar-se ao trabalho de ler qualquer coisa simples das muitas já existentes em Portugal sobre o que é o a priori, dá-se ao cuidado de alertar o leitor para a particularidade de em lógica uma proposição só ter dois valores de verdade. Já em física ou história, presume-se, uma proposição pode chegar a ter uns trinta ou quarenta valores de verdade. Eu não sei é quais são.
Verdade e variabilidade
Eis uma confusão comum. Considere-se agora que “p” é necessária. A confusão é então dizer que a mesma realidade r não pode fazer “p” ser verdadeira. Isto porque r não pode variar. Como não pode variar, não pode fazer “p” ser verdadeira.
Que isto é uma confusão vê-se se considerarmos que r faz “p” ser verdadeira em virtude de r ser o que é e não em virtude de r variar ou deixar de variar. Se r varia, “p” é contingente. Se r não varia, “p” é necessária. Mas em ambos os casos r faz “p” ser verdadeira porque “p” exprime r. E o que há em r que faz “p” ser verdadeira é r ser a realidade que “p” exprime. Nada mais. Seria muito estranho, e na verdade insustentável, pensar que o que há em r que faz “p” ser verdadeira é a variabilidade de r, que ora ocorre ora não ocorre. Se r tem essa variabilidade, isso fará “p” ser contingente. Mas o que há em r que faz “p” ser verdadeira é r ser r, em vez de ser outra coisa qualquer; não é a sua variabilidade.
Filosofia e pensamento crítico
O Tomás Magalhães Carneiro tem desenvolvido um importante trabalho com sessões públicas de filosofia prática, no seu Café Filosófico. O Tomás resolveu gravar algumas dessas sessões e partilhar com todos na internet. Para além de tudo esta parece-me ser uma boa atitude já que não temos disponíveis muitos vídeos de filosofia e pensamento crítico disponíveis em língua portuguesa. Pode aceder neste link.
17 de março de 2010 ⋅ Blog
Enigmas da Existência
Podemos ler aqui mais informações sobre o livro, assim como uma crítica que publiquei no jornal Público aquando da edição original inglesa. E podemos ler três dos dez capítulos do livro: "Identidade Pessoal", "Por Que Não Nada?" e "O Que é a Metafísica?"
Em breve, iremos oferecer aqui exemplares deste livro. Fique atento!
16 de março de 2010 ⋅ Blog
Uma sugestão para os professores de Filosofia
Para saber mais, pode procurar aqui.
Mentira ou ignorância
Importamos livros de Portugal e do Brasil. Isso significa que temos livros em duas ortografias no nosso território, facto que suscita natural confusão, sobretudo aos leitores recentemente alfabetizados — em particular jovens e crianças.O argumento é que com a nova ortografia Angola poderia importar indiferentemente livros de Portugal ou do Brasil, sem diferenças ortográficas. Isto é falso. Com ou sem acordo ortográfico, os leitores angolanos irão ler nos livros portugueses as palavras “económico”, “génio” e “facto”, lendo “econômico”, “gênio” e “fato” nos brasileiros. Além disso, onde antes do acordo liam “espectadores” ou “aspecto” nos livros de qualquer país, depois do acordo irão ler “espetadores” e “aspeto” nos livros portugueses, se os editores adoptassem o acordo (o que não está a acontecer e não é previsível que aconteça), e “espectadores” e “aspecto” nos brasileiros.
Portanto, ou Agualusa desconhece a nova ortografia — singular desconhecimento num defensor dela que ainda por cima é romancista — ou mente. Como a quase totalidade dos defensores do acordo, julgo que mente. Quem me dera a mim, e a muitos editores, que o acordo realmente unificasse a ortografia. Não unifica. Apenas muda mudanças. O que uns escrevem de uma maneira, outros passam a escrever de outra, o que em alguns casos se escrevia da mesma maneira, passa a escrever-se de maneira diferente. O acordo ortográfico nada unifica. Nem sequer a ortografia. E mesmo que o fizesse, ainda faltaria unificar o léxico, pois as crianças angolanas iriam sempre ler "electrão" nuns livros e "elétron" noutros, mais c menos c.
Só mais um aspecto (sim, com c, à brasileira): quem se preocupa tanto com a confusão das crianças como pode não se preocupar com a confusão dessas mesmas crianças que, depois do acordo ortográfico, vão a uma biblioteca e encontram não duas ortografias, mas quatro? Quatro porque encontrará livros portugueses com a ortografia antiga e com a modernaça, e o mesmo nos brasileiros. A preocupação de Agualusa com as crianças angolanas é uma argolada. Se está preocupado com elas, deve agarrar-se às duas ortografias que já existem, e declarar que qualquer uma delas é bem-vinda no seu país.
Proposições e frases eternas
A Crítica está desde ontem de cara lavada. Espero que os leitores gostem. Se notar algum problema faça "reload" (tecla F5 ou control-R). Se o problema persistir, contacte-me.
13 de março de 2010 ⋅ Blog
Coleção Mestres do Pensar

12 de março de 2010 ⋅ Blog
10 de março de 2010 ⋅ Blog
W. V. O. Quine
Não há qualquer outro sentido mais profundo de “realidade” do que o sentido em que pertence à própria ciência procurar a essência da realidade, com o seu método hipotético-dedutivo de conceptualização e experimentação, método que se corrige a si mesmo.
9 de março de 2010 ⋅ Blog
Filosofia do direito em português

A maioria das editoras brasileiras tem o péssimo hábito de divulgar mal os seus livros: a publicidade na área é amadora, os catálogos das editoras geralmente são desatualizados e só sabemos das novidades quando nós mesmos procuramos nas livrarias ou somos informados por alguém que conhecemos. O meu objetivo aqui é informar que uma bibliografia básica de qualidade inteiramente em português já está disponível para os interessados em filosofia do direito:
Valor Respeito E Apego, de Joseph Raz
Razão Prática e Normas, de Joseph Raz
Problemas de Filosofia do Direito, de Richard A. Posner
Filosofia - Moral e Política: Liberdade, Direitos, Igualdade e Justiça Social, de Paul Smith
Lei Natural E Direitos Naturais, de John Finnis
O Conceito De Direito, de L.A.Hart
Ensaio sobre Teoria do Direito e Filosofia, de L.A.Hart
Direito, Liberdade, Moralidade, de L. A. Hart
H. L. A. Hart, de Neil MacCormick
Retórica e o Estado de Direito, de Neil MacCormick
Argumentação Jurídica e Teoria do Direito, de Neil MacCormick
Filosofia e Teoria do Direito, de Martin Golding
Uma breve história da justiça distributiva, de Samuel Fleischacker
Uma introdução aos direitos, de William Edmundson
Justiça como equidade – um reformulação, de John Rawls
O Direito dos Povos, de John Rawls
Uma teoria da justiça, de John Rawls
Justiça e Democracia, de John Rawls
As Teorias da Justiça Depois de Rawls, de Roberto Gargarella
Liberalismo e os limites da justiça, de Michael Sandel
O Mito da Propriedade, de Liam Murphy e Thomas Nagel
Os Elementos Da Justiça, de David Schimidtz
O Direito da Liberdade, a leitura moral da constituição norte-americana, de Ronald Dworkin
Uma questão de princípio, de Ronald Dworkin
O Império do Direito, de Ronald Dworkin
Levando os direitos a sério, de Ronald Dworkin
A Virtude Soberana - A Teoria E A Prática Da Igualdade, de Ronald Dworkin
Anarquia, Estado e Utopia, de Robert Nozick
Terrorismo, Direitos Humanos e a Apologia do Governo Mundial, de Louis P. Pojman
Esferas da Justiça - Uma Defesa do Pluralismo e da Igualdade, de Michael Walzer
A editora Elsevier lançará ainda este ano os livros:
Ronald Dworkin, de Stephen Guest
A Moralidade da Liberdade, de Joseph Raz
O feminismo de Mill
Acabo de publicar uma recensão de Fernanda Belo Gontijo do livro A Sujeição das Mulheres, de J. S. Mill (Almedina).
Kenny na Gradiva
Uma das importantes inovações desta obra é que cada volume está dividido em duas partes. Na primeira, apresenta-se uma narrativa cronológica das ideias dos principais filósofos da época respectiva, integrando-os no seu contexto histórico, social, político e económico. Na segunda, Kenny aprofunda os problemas, teorias e argumentos discutidos na época, tema por tema: com capítulos dedicados à ética, Deus, ciência, metafísica, linguagem, etc.
Não se espere encontrar nesta obra o género de lugares-comuns infelizmente endémicos nas zonas mais carentes da cultura académica e popular: as tolices da caverna de Platão ou da água de Tales ou a suposta viagem transcontinental do “mito à razão” e outras caricaturas ridículas que transformam a filosofia em telenovela. Aqui, encontramos história filosófica da filosofia e não conversa de café disfarçada de erudição.
Sir Anthony Kenny (n. 1931) é um dos mais respeitados filósofos e historiadores da filosofia. Professor de Filosofia no Balliol College de Oxford, foi seu Presidente durante doze anos. Presidiu igualmente à Academia Britânica. Actualmente, é Presidente da Fundação Rhodes de Oxford. É autor, entre outras obras, de Action, Emotions and the Will (1963), Descartes (1968), The Five Ways (1969), Wittgenstein (1973), Will, Freedom and Power (1975), The Aristotelian Ethics (1978), Freewill and Responsibility (1978), Aristotle's Theory of the Will (1979), Aquinas (1980), Thomas More (1983), The Legacy of Wittgenstein (1984), The Logic of Deterrence (1985), The Metaphysics of Mind (1989), Aristotle on Perfect Life (1992), What is Faith? (1992), Aquinas on Mind (1993) e Frege (1995). Dele está publicada em Portugal uma excelente história da filosofia mais condensada, ideal para o ensino secundário: História Concisa da Filosofia Ocidental (Temas & Debates).
Uma Pequena História do Mundo
8 de março de 2010 ⋅ Blog
R. G. Collingwood
Como outros revolucionários, agradeço a Deus pelos reaccionários. Eles clarificam a questão.
7 de março de 2010 ⋅ Blog
Thomas Nagel
Uma hipótese científica pode ser falsa e sem sustentação indiciária. Isso é uma razão suficientemente boa para não a ensinar na escola às crianças. Não é necessário argumentar que não é ciência, nem que nem sequer é ciência irremediavelmente má.
O direito de defender o criacionismo

Fui procurar mais informações e descobri que Nagel tem defendido recentemente ("Public Education and Intelligent Design", Philosophy & Public Affairs 2008) que o criacionismo não é pseudociência, mas má ciência. E como toda má ciência ainda é um tipo de ciência, argumenta Nagel, as decisões jurídicas de proibir o ensino do criacionismo são incorretas. Eu discordo deste argumento. Como qualquer pessoa que se deu ao trabalho de discutir calmamente com um criacionista sabe, as hipóteses criacionistas são imunes ao processo normal de justificação crítica e argumentada e, portanto, não podem ser consideradas como ciência.
O argumento de Nagel a favor do ensino do criacionismo não me convenceu e a sua escolha do livro criacionista me deixou surpreso. Mas o que me deixou ainda mais surpreso foi a reação fanática de alguns ateus, como Brian Leiter, frente a escolha de Nagel. A reação extremada de Leiter e outros é uma clara tentativa de silenciar Thomas Nagel, o que é inaceitável. Nagel tem o direito de defender o que bem entender, incluindo o criacionismo, por mais infundado que este seja. O impulso de inibir que posições criacionistas sejam sequer consideradas é um impulso totalitarista injustificado. O que se deve fazer nesse caso é o que já sabemos: argumentação e discussão cuidadosa dos argumentos.
Fiquei com a impressão de que Leiter é daqueles ateus militantes que assumem o evolucionismo como uma espécie de hino de guerra aos religiosos, pressupondo erradamente, como os próprios criacionistas, que o evolucionismo e o ateísmo são indissociáveis. A defesa fanática do ensino do criacionismo é uma opção tão prejudicial quanto a defesa fanática do evolucionismo. E ambas contribuem para uma vulgarização extremada do debate público entre criacionistas e evolucionistas, impossibilitando qualquer discussão que não seja pura propaganda ideológica.
Theodore Dalrymple
"Thank You For Not Expressing Yourself" acaba de ser publicado e é sobre este fenómeno inacreditável que se encontra nos comentários da Internet: a falta de civilidade, simpatia e sensatez. Tudo começa com o que aconteceu recentemente a Dawkins, que pretendeu eliminar o imenso ruído (comentários irrelevantes e sem relação com o conteúdo que supostamente estaria a ser comentado) dos comentários do seu site; a reacção não se fez esperar, e todos os nomes feios lhe chamaram. E a primeira ideia é logo falar de censura -- um completo absurdo, como nota o doutor Theodor, porque a censura é impedir alguém de ser publicado; não é censura recusar-se a publicar o que alguém escreve. Ou seja, não é censura eu impedir neste site, como Dawkins, os comentários irrelevantes ou tolos ou insultuosos, porque não estou a impedir essas pessoas de publicar precisamente essas coisas, mas noutro lado qualquer que não aqui. Censura seria eu impedi-las de publicar essas coisas, não aqui, mas em absoluto.
O fenómeno da irrelevância e da falta de civilidade nos comentários da Internet é muito interessante, e o doutor Theodore faz dele uma análise que subscrevo. Acrescento apenas que estaríamos a recusar ver a realidade caso se considerasse que é o meio que faz as pessoas agirem como brutos não o sendo todavia; pelo contrário, a vantagem do meio é mostrar à humanidade o que a humanidade realmente é: um grupo de pessoas totalmente reféns dos brutos que entram a matar e eliminam a possibilidade da discussão racional de ideias, de alternativas, de propostas. Na verdade, eliminam a possibilidade de qualquer outro género de sociedade excepto uma sociedade de brutos, que é a única que conseguem conceber. O curioso disto, como nota o doutor Theodor, é que muitos destes brutos são professores universitários (escondidos pelo habitual anonimato da Internet).
6 de março de 2010 ⋅ Blog
Heidegger e o nazismo
4 de março de 2010 ⋅ Blog
Arte e instinto
Filosofia e ciência
3 de março de 2010 ⋅ Blog
Wook com menos 20%
2 de março de 2010 ⋅ Blog
Cambridge Companion to Atheism
Weinberg, a ciência e os seus críticos
Vale a pena fazer um comentário à parte final da recensão, na qual o Pedro refere a posição algo crítica de Weinberg perante a filosofia. Isto é algo que já li noutro livro do autor. Em pratos limpos, a crítica parece tola, porque é algo como "não tem aplicação prática, logo não interessa". Um pouco como dizer que tal como a biologia é inútil porque seria largamente irrelevante para um pastor, assim também a filosofia seria inútil porque é largamente irrelevante para um cientista.
Há um sentido em que Weinberg tem razão, e outro em que não o tem.
O sentido em que não tem razão é óbvio: a filosofia, tal como outras áreas da investigação, não são importantes por causa do seu carácter prático ou por permitir fazer melhor ciência ou pontes ou curar doenças, mas apenas porque são as nossas melhores tentativas para enfrentar problemas que nos interessam. E não interessa se não conseguimos resolvê-los realmente, porque seria tolo parar de tentar -- pois aí é que não conseguiríamos mesmo resolvê-los.
Mas há um sentido em que tem razão: é uma crítica à ideia de que primeiro devemos fazer uma reflexão aturada sobre os nossos métodos para, depois de os estabelecer, os aplicar para fazer a investigação propriamente dita. Isto é uma tolice porque só descobrimos os métodos à medida que investigamos as coisas; e muitas vezes nem sequer compreendemos bem os métodos que usamos e que têm funcionado adequadamente. Neste sentido é uma palermice declarar que antes de alguém investigar algo sobre átomos ou o Big Bang ou a tuberculose ou as vacas, tem de vir o filósofo, na sua tarefa de metodólogo, estabelecer primeiro os métodos.
E isto é tão tolo na ciência quanto na filosofia: os novos e opostos métodos filosóficos propostos respectivamente por Descartes e Hume teriam hoje caído no esquecimento não fosse o trabalho real de investigação filosófica levada a cabo por eles; as suas investigações são interessantes independentemente de aceitarmos -- ou sequer de compreendermos bem -- as posições metodológicas por eles defendidas.
Em suma, no que respeita à metodologia, a prova do pudim está em comê-lo -- pela simples razão de que se uma investigação sobre X é difícil, mais difícil ainda é estabelecer previamente os métodos dessa investigação. A ilusão é pensar que estabelecer métodos sobre a investigação de X é algo que podemos fazer independentemente da investigação de X propriamente dita.
1 de março de 2010 ⋅ Blog
Contra o acordo ortográfico, uma ILC
A liberdade de expressão tem graus?
Arquivo
-
▼
2010
(361)
-
▼
Março
(47)
- Direcção da adequação, livros e leitores
- Confusão sobre valores
- Deus do outro lado do espelho
- Diógenes de Sínope
- O pensamento político de Orwell
- Mandeville, os moralistas e a economia
- Whitehead, ciência e pensamento
- Olhar de cima e ver de baixo
- Pátria e infantilidade
- Raciocínio e infantilidade
- Paradoxo de Protágoras
- Gottfried Leibniz
- Edgar Degas
- Heraclito segundo Kahn
- Primeira Tertúlia da Crítica
- Colin McGinn
- John Locke
- Russell sobre Gellner sobre a filosofia linguística
- Liberdade de expressão
- Concurso Bizâncio
- indexicais, proposições e contingências da língua
- Qualidade superlativa
- Verdade e variabilidade
- Filosofia e pensamento crítico
- Enigmas da Existência
- Uma sugestão para os professores de Filosofia
- Mentira ou ignorância
- Proposições e frases eternas
- Coleção Mestres do Pensar
- Música
- W. V. O. Quine
- Filosofia do direito em português
- O feminismo de Mill
- Kenny na Gradiva
- Uma Pequena História do Mundo
- R. G. Collingwood
- Thomas Nagel
- O direito de defender o criacionismo
- Theodore Dalrymple
- Heidegger e o nazismo
- Arte e instinto
- Filosofia e ciência
- Wook com menos 20%
- Cambridge Companion to Atheism
- Weinberg, a ciência e os seus críticos
- Contra o acordo ortográfico, uma ILC
- A liberdade de expressão tem graus?
-
▼
Março
(47)
