Considere-se uma dada afirmação “p” verdadeira. Aceite-se que algo a faz ser verdadeira. Chamemos a isso “r”, a realidade que faz “p” ser verdadeira. Por exemplo, se “p” for “A água é H2O” a realidade da composição química da água faz “p” ser verdadeira.
Eis uma confusão comum. Considere-se agora que “p” é necessária. A confusão é então dizer que a mesma realidade r não pode fazer “p” ser verdadeira. Isto porque r não pode variar. Como não pode variar, não pode fazer “p” ser verdadeira.
Que isto é uma confusão vê-se se considerarmos que r faz “p” ser verdadeira em virtude de r ser o que é e não em virtude de r variar ou deixar de variar. Se r varia, “p” é contingente. Se r não varia, “p” é necessária. Mas em ambos os casos r faz “p” ser verdadeira porque “p” exprime r. E o que há em r que faz “p” ser verdadeira é r ser a realidade que “p” exprime. Nada mais. Seria muito estranho, e na verdade insustentável, pensar que o que há em r que faz “p” ser verdadeira é a variabilidade de r, que ora ocorre ora não ocorre. Se r tem essa variabilidade, isso fará “p” ser contingente. Mas o que há em r que faz “p” ser verdadeira é r ser r, em vez de ser outra coisa qualquer; não é a sua variabilidade.
19 de março de 2010 ⋅ Blog
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2 comentários :
Não compreendo como é que isso pode ser uma confusão comum. Há exemplos? Qual é o pano de fundo desta confusão?
Ricardo Miguel
A tese verificacionista, defendida pelos positivistas, está comprometida com a ideia de que uma frase necessariamente verdadeira não é verdadeira em função do modo como o mundo é.
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