As investigações lógicas podem, obviamente, ser uma ferramenta útil para a filosofia. Elas têm, no entanto, de ser informadas por uma sensibilidade filosófica ao formalismo e por uma mistura generosa de senso comum, bem como uma compreensão exaustiva tanto dos conceitos básicos como dos detalhes técnicos do material formal utilizado. Não deve ser suposto que o formalismo pode produzir resultados filosóficos para além da capacidade do raciocínio filosófico comum. Não há substituto matemático para a filosofia.
31 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Saul Kripke
Uma imagem mais verossímil do Positivismo Lógico

Uma imagem comumente associada ao positivismo (ou empirismo) lógico é a de um projeto empirista radical, fundacionista, completamente hostil à metafísica, à ética, que desprezava a história da ciência, etc. A pesquisa histórica recente, no entanto, desmente essa imagem; e o Cambrige Companion to Logical Empiricism (2007), org. Alan Richardson e Thomas Uebel, é a prova disso. Esse volume, historicamente bem informado e filosoficamente bem argumentado, em 14 artigos de diferentes filósofos (entre eles Michael Friedman, os próprios organizadores, dentre outros), não só desmente a imagem do positivismo lógico como um programa filosófico bem delimitado e uniforme (e autorrefutante!), como também indica as novas tendências na pesquisa histórica sobre o positivismo lógico. Os artigos que compõem o volume mostram claramente os interesses dos positivistas pelas ciências sociais, pela psicologia, o abandono do critério de verificação e a adoção do critério confirmação, a aproximação com a filosofia kantiana, a relação com a história da ciência, etc. O resultado é uma imagem bastante rica e filosoficamente diversificada do positivismo lógico muito longe das caricaturas que comumente se vê por aí. Altamente recomendável!
30 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
SPF: candidaturas para a apresentação de comunicações
Pílulas da moralidade
Que acham dessa ideia?
29 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Recordar Peter Goldie (1946-2011)
A OUP tem aqui uma breve página de homenagem a Peter Goldie, que morreu prematuramente em Outubro passado. Peter Goldie foi um dos primeiros filósofos a reabrir o tema da filosofia das emoções, e organizou o importante volume The Oxford Handbook of Philosophy of Emotion. O seu livro The Emotions: A Philosophical Exploration (2002) foi um dos primeiros a explorar esta área; na Disputatio temos aqui uma recensão deste livro.
Churchland e Chomsky sobre o Hiato Explicativo
História e Filosofia da Ciência
Eis mais dois bons livros publicados pela Unesp. A tensão essencial, de Thomas Kuhn, uma coleânea de ensaios principalmente sobre história da ciência; e O progresso e seus problemas, de Larry Laudan, uma defesa do progresso da ciência não com base no avanço das teorias rumo à verdade, mas na capacidade de resolverem problemas empíricos e conceituais.
Ética prática em Portimão
A Inefabilidade do Ordinário
Desidério Murcho argumenta convincentemente que a ideia de inefabilidade como acesso privilegiado à verdade tem tido uma influência nefasta em certos círculos intelectuais aqui.
Deixem-me, no entanto, citar uma passagem do livro de Bryan Magee Confessions of a Philosopher que contraria a afirmação de que o inefável é um mito, pelo menos, num certo sentido de incomunicabilidade por linguagem:
"Se ergo os olhos quando escrevo esta frase, a minha visão absorve imediatamente metade de um aposento contendo dezenas, se não centenas, de itens de formas multicoloridas com relações desordenadas entre si. Vejo tudo com clareza, nitidez e sem esforço. Não existe forma concebível de palavras nas quais eu pudesse condensar este acto visual e unitário. Durante a maior parte das horas em que estou acordado, a minha percepção consciente é uma experiência predominantemente visual - Como diz Fichte, "Sou um ver vivo" - mas não há palavras para descrever as formas irregulares dos objectos que vejo, nem há palavras para descrever as relações espaciais tridimensionais múltiplas e concomitantes nas quais vejo os objectos directamente uns em relação aos outros. Não há palavras para as gradações e nuances diferentes de cor que vejo, nem para as densidades variadas de luz e sombra.
Sempre que vejo, tudo o que a linguagem pode fazer é indicar, com generalidade extrema e nos termos mais amplos e grosseiros, o que estou a ver. Mesmo algo tão simples e corriqueiro como a visão de uma toalha caída no chão da casa de banho é inacessível à linguagem - e inacessível a ela de muitos pontos de vista simultâneos: nenhuma palavra para descrever a forma que assumiu ao cair, nenhuma palavra para descrever a gradação do sombreamento das suas cores, nenhuma para descrever a diferença de sombra nas suas dobras, nenhuma para descrever as relações espaciais com todos os outros objectos da casa de banho. Vejo tudo isso ao mesmo tempo com grande precisão e definição, com clareza e certeza, e em toda a sua complexidade. Aposso-me de tudo isso de modo completo e seguro na experiência directa e, entretanto, seria totalmente incapaz, como qualquer outra pessoa, de pôr essa experiência em palavras. Portanto, não é o caso de o mundo ser "o mundo como o descrevemos", de eu vivenciá-lo "através de categorias linguísticas que ajudam a moldar as nossas experiências", de meu "principal método de dividir as coisas estar na linguagem" ou de que o meu "conceito de realidade" seja "uma questão de categorias linguísticas".
Observações correspondentes valem para a nossa experiência directa através dos cinco sentidos. Imaginem aplicar as frases recém-citadas às experiências que tenho quando estou a jantar! Comer, como ver, faz parte do nosso contacto elementar com o mundo da matéria, sendo até mais necessário à nossa experiência do que a visão. Posso distinguir instantaneamente, sem esforço e com prazer entre os sabores da carne, das batatas, de cada legume, do gelado e do vinho. E, ainda mais, posso distinguir instantaneamente e sem esforço entre diferentes qualidade de carne (de vaca, porco, vitela, cordeiro etc.), tipos diferentes de batata (assada, cozida, frita, em puré etc.) e assim por adiante para cada exemplo possível. Será que há alguém que possa sustentar a sério que as categorias nas quais essas experiências me chegam são linguísticas, ou que o meu principal método de chegar a elas é linguístico? Existe mesmo alguém capaz de pôr essas experiências em palavras depois de ter passado por elas? Quem consegue descrever o sabor de batatas cozidas, de cordeiro ou de nabo branco, de tal forma que alguém que nunca tenha provado esses alimentos conheça, a partir das descrições, o sabor de cada um deles?
Como digo, podemos examinar todos os sentidos da mesma forma. Conheço as vozes individuais de todos os meus amigos e reconheço a maioria delas ao telefone após duas ou três palavras, mas as categorias segundo as quais faço a distinção não são linguísticas, e fica fora do alcance das possibilidades da linguagem pôr em palavras as características isoladas de cada uma. Este ponto é ilustrado pelo facto de não haver nenhum meio pela qual eu pudesse descrevê-las que permitisse a alguém identificá-las sozinho. A verdade pura e simples é que nenhuma das nossas experiências directas pode ser posta em palavras de modo adequado. E isto não vale apenas para as nossas experiências sensoriais do mundo exterior. O tempo todo dentro de mim corre um fluxo complexo, dinâmico e perpetuamente mutante de percepção, disposição de humor, resposta, reacção, sentimento, tom emocional, percepções de associações e diferenças, referências laterais, com vislumbres e pensamentos bruxuleantes e lembranças parciais passando velozes de um lado a outro como vários fios entrelaçados, tudo seguindo interminavelmente nalguma câmara de eco muito reverberante com ressonâncias, conotações e implicações. Eu seria capaz de imaginar tudo isso ser traduzido para algum tipo de música instrumental, mas sem dúvida não em palavras.
Exactamente como no caso da experiência exterior, mesmo as experiências pessoais mais incisivas e fortes não são verbalizáveis. Quem pode descrever um orgasmo? Ou uma reacção a uma grande obra de arte? Ou ainda a qualidade específica de terror num pesadelo?
Procurem contar uma peça musical. Um dos comentários famosos mais obviamente falsos na história recente da filosofia, que costuma ser citado em tom de aprovação, é de Ramsey: "O que não se pode dizer não se pode dizer e também não se pode assobiar." A meu ver, é um típico exemplo de cegueira (neste caso talvez de surdez) espantosa de alguns filósofos conhecidos. Tudo o que pode ser assobiado é algo que pode ser assobiado, mas não pode ser dito. Ou será que Ramsey era capaz de dizer uma melodia? Ele poderia ter sido capaz de ditar a notação musical de uma mas isso não seria verbalizar a melodia. E quando se considera a possibilidade de dizer uma sinfonia de Brahms ou um concerto para piano de Mozart... O mesmo vale, naturalmente, para outras artes. Como se diz a Mona Lisa ou a Última Ceia de Leonardo? A suposição de que tudo de significativo que se possa experimentar, conhecer ou comunicar pode ser expresso em palavras seria ridícula demais para merecer um instante de atenção, não fosse o facto de ela ter sido subjacente a grande parte da filosofia do século XX, e a grande parte de teoria literária também."
E o que pensa o leitor?
28 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Somos Nojentos!
26 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
A Crítica no Facebook
Olimpíadas de Filosofia: medalha de prata dourada
O que é a metafísica?
25 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
A história demasiado consciente de Freud
Mikkel Borch-Jacobsen e Sonu Shamdasani defendem em The Freud Files: An Inquiry into the History of Psychoanalysis (CUP, 2012, 450 pp.) que a psicanálise se impôs na cultura europeia graças em parte à reescrita da história.
Chamada de Artigos: Revista Fundamento
Os interessados devem enviar dois arquivos do seguinte modo: o primeiro arquivo deve conter o artigo completo com título, resumo e abstract com no máximo 250 palavras (no idioma do artigo e em Inglês – quando o idioma do artigo for Inglês, o abstract pode ser em Espanhol ou Português, idiomas também aceitos para publicação), Times New Roman 12, espaço entre linhas 1,5 e margens 2,5.
No segundo arquivo, deve ser enviado o nome completo do autor, título do trabalho submetido, endereço de e-mail, Instituição e titulação. O endereço do e-mail é revistafundamento@ufop.br
Aristotle and Contemporary Argumentation Theory
23 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Na máquina de prazer de Nozick
Karl Popper
Afirma-se muitas vezes que a discussão só é possível entre pessoas que têm uma linguagem comum e que têm pressupostos básicos em comum. Penso que isto é um erro. Tudo o que é necessário é uma prontidão para aprender com quem discutimos, o que inclui um desejo genuíno de compreender o que essa pessoa quer dizer. Se esta prontidão existir, a discussão será tanto mais frutuosa quanto mais diferirem os pressupostos de fundo de quem discute.
22 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Essencialismo renaturalizado
Está já disponível aqui a versão Kindle do meu Essencialismo Naturalizado: Aspectos da Metafísica Contemporânea.
21 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Filosofia em Directo
Acabo de receber notícia que durante o ano de 2011 os leitores compraram mais de 12 mil exemplares do meu Filosofia em Directo. A todos os leitores, os meus agradecimentos. Espero que o livro seja estimulante e esclarecedor.
20 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Analiticidade Metafísica
Eis uma defesa recente, e bastante interessante, da noção metafísica de analiticidade. Pode-se ler aqui uma recensão.
19 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Ética e animais não-humanos
A imparável Notre Dame Philosophical Reviews acaba de publicar aqui uma recensão do Oxford Handbook of Animal Ethics, org. por Tom L. Beauchamp e R. G. Frey.
17 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
16 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Co-existir com outros animais
Acabo de ter conhecimento do interessante blog animalogos, coordenado pela etóloga Anna Olson, e com a participação do médico veterinário Manuel Magalhães Sant'Ana e do biólogo Nuno Henrique Franco. Quem se interessar pela área da ética aplicada que diz respeito aos animais não humanos tem agora mais uma leitura interessante.
15 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Pensar Outra Vez, outra vez
Pensar Outra Vez: Filosofia, Valor e Verdade, o meu livro originalmente publicado em 2006, está agora disponível para venda na Amazon, em versão electrónica para Kindle. E é muito barato: apenas duas libras, na Amazon inglesa, ou 2.99 dólares, na norte-americana.
Acompanhar as novidades
Além disso, na Crítica encontra-se uma caixa com os títulos das últimas cinco entradas publicadas neste blog; e neste blog encontra-se uma caixa com os últimos cinco artigos publicados na Crítica.
Ao contrário do que acontecia até recentemente, os novos artigos publicados na Crítica não serão anunciados aqui.
14 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
História do Pensamento Político Ocidental
12 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Eagleton sobre Alain de Botton
11 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Os Melhores Anjos de Nossa Natureza?
10 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Leis da natureza e deliberação racional
Publiquei os artigos "O Que é uma Lei da Natureza?", de A. J. Ayer, traduzido por Sérgio R. N. Miranda e Aluízio Couto, e "Deliberação e Decisão Racional", de Faustino Vaz. Mudei além disso o grafismo da revista, assim como outros pormenores. Todas as sugestões são bem-vindas.
6 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Não somos seres humanos
1 de janeiro de 2012 ⋅ Blog
Revista Fundamento: N.º 2 está online
- Problemas Centrais em Filosofia Contemporânea do Direito (Andrew Altman)
- Cinco Teorías Sobre el Concepto de los Derechos (Antonio M. Peña Freire)
- Uma Resposta Hedonista à Objeção da Máquina da Experiência (Leandro Shigueo Araújo)
- Uma Resolução Exemplar (Frank Thomas Sautter)
- A Relação Entre Os Mal-Entendidos e As Implicaturas Conversacionais: Uma Investigação Preliminar (Rodrigo Jungman)
- A Teoria das Descrições de Russell a partir de On Denoting: Uma Explanação (Jaaziel de Carvalho Costa)
- A Noção de Ser na Crítica da Razão Pura de Immanuel Kant (Filício Mulinario)
- Proclus, the Cambridge Platonists and Leibniz on Soul and Extension Leibniz on Soul and Extension (Martinho Antônio Bittencourt de Castro)
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