"X é adorável (lovely) só se o adoramos e (de algum
modo) desejamos ter X. X é ominoso só se prenuncia um perigo eminente para nós.
É trágico só se frustra os nossos desejos mais nobres. É cómico (funny) só se satisfaz o desejo justo de
que o desejo de outrem seja frustrado. É lírico só se exprime os nossos desejos
puros e nobres. É brutal só se satisfaz o nosso desejo frustrando os desejos de
outros. É reles (cheap) só se
constitui a satisfação de um desejo de modo desonesto ou indigno. É ostentoso
ou pomposo (gaudy) só se satisfaz um
desejo de auto-afirmação e auto-engrandecimento. As coisas sublimes e
reverendas são apenas as que são mais poderosas do que nós, coisas que nos
podem ferir e as quais não podemos forçar a anuir com os nossos desejos. As
coisas ternas (tender) são as que
estão à nossa mercê, coisas cujos desejos (se os tivessem) poderíamos
facilmente frustrar. As coisas “fofinhas” (cute)
são as que apelam aos nossos instintos e sentimentos paternais ou protectores e
nos dão um modo fácil de satisfazer os seus desejos. Estas propriedades
estéticas e outras do mesmo género são observadas só quando o desejo interpreta
perceptivamente a natureza.
Todas estas propriedades
estéticas reflectem o impacto que o seu objecto tem nos nossos desejos reais.
Considere-se as coisas “fofinhas” (Cuteness):
o meu gato parece-me “fofinho”, mas se eu encolhesse em tamanho (digamos, como no
filme Querida, Encolhi os Miúdos),
pareceria ameaçador, terrível, sinistro, até malévolo (evil). Godzilla e King Kong parecem horrendos, visto que podiam ter
um impacto devastador nos nossos desejos, mas são também algo caricatos (ludicrous) porque nos é subtilmente
assegurado de que, sendo estúpidos, podemos controlá-los (o último aspecto é
evitado numa tragédia). A sua atracção estética deve-se também ao nosso desejo
(vergonhoso) de ver outros destruídos enquanto permanecemos sãos e salvos (a
satisfação da Schadenfreude).”
Eddy Zemach, Real Beauty, Penn State Univ. Press, 1997.