Será que «neoliberalismo» faz parte do vocabulário filosófico? Será o neoliberalismo uma teoria política?
«Neoliberalismo» é um dos termos que têm surgido com mais frequência na discussão pública de questões políticas. Muitas vezes não se chega a perceber bem se se está a falar de uma filosofia política ou de uma doutrina económica, que são coisas diferentes, embora não desligadas. Vale, pois, a pena tentar compreender melhor do que se está exactamente a falar quando se fala de neoliberalismo.
É certo que o uso frequentemente depreciativo do termo não ajuda a esclarecer a coisas, pois dá a ideia de que se trata de algo que é obviamente mau e indesejável. Mas, se o neoliberalismo for algo assim tão obviamente mau e censurável, como poderá alguém minimamente razoável assumir-se claramente como neoliberal? Postas as coisas deste modo, esperar que um neoliberal confesse o seu neoliberalismo é como esperar que um egoísta confesse o seu egoísmo, ou que um manipulador se assuma publicamente como tal.
Assim, é melhor deixar de parte o uso valorativo dos termos «neoliberal» e «neoliberalismo» e tentar ver antes, de forma desapaixonada, o que têm de comum aqueles autores que são habitualmente classificados como neoliberais.
Centrando-nos nos casos mais conhecidos, apontam-se por vezes os nomes de Friedrich Hayek e Ludwig von Mises, como principais inspiradores. Mas estes são economistas, não filósofos. Nomes mais recentes são os de Milton Friedman e Alan Greenspan, também eles economistas. E há também quem indique Ronald Reagan e Margaret Thatcher, que não são economistas nem filósofos. Parece, pois, não ser fácil encontrar filósofos políticos que defendam o neoliberalismo.
Talvez algumas pessoas se sintam tentadas a indicar os nomes de filósofos como Robert Nozick ou David Gauthier. Mas isso é enganador, pois estes filósofos fizeram questão de se demarcar claramente do liberalismo contemporâneo de Rawls e Dworkin (que se distinguem dos liberais clássicos, como Locke e Kant), sendo alguns dos seus mais fortes críticos. Daí que Nozick e Gauthier sejam conhecidos como libertaristas, não como neoliberais. E os libertaristas nem sequer foram menos críticos do liberalismo do que os comunitaristas e os marxistas.
Será, pois, adequado falar de neoliberalismo nas discussões de teoria política? Volto, então, a perguntar: onde estão os filósofos neoliberais?
Talvez fosse bom assentar que, apesar da confusão conceptual reinante, o neoliberalismo não é realmente uma teoria política. A não ser que não esteja a ver bem e haja por aí algum leitor que me queira esclarecer.
Estou, sinceramente, aberto a isso.